sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Folha de S.Paulo - 02/01/07

Livro traz perfil do múltiplo Hermínio
Por Sérgio Torres, da Sucursal do Rio

O perfil biográfico recém-lançado do ativista cultural Hermínio Bello de Carvalho tem o mérito de condensar num único volume informações sobre as diversas atividades em que ele, a partir dos anos 40, ainda menino, se envolveu na música, na literatura, no teatro e nos espetáculos.

Editado pela Casa da Palavra, "Timoneiro" foi escrito pelo jornalista Alexandre Pavan, em um trabalho de pesquisa documental e de entrevistas iniciado em 2003, ainda sem saber, à época, se viraria livro ou algum outro produto em homenagem ao compositor, escritor, poeta, cantor, diretor de shows, idealizador de projetos e revelador de artistas, entre outras tarefas a que Hermínio ainda se dedica, aos 71 anos.

O próprio Hermínio _que já afirmou detestar rótulos, mas traz consigo o de impaciente com quem não conhece direito_ aceitou abrir seus lendários arquivos ao pesquisador.E aí surgiu dos guardados de décadas, em forma de fotos, textos e fitas, gente que já morreu, mas está presente na memória da cultura nacional: Jacob do Bandolim, Cartola, Aracy de Almeida, Pixinguinha, Villa-Lobos, Elizeth Cardoso, Carlos Cachaça, Clementina de Jesus, Carlos Drummond de Andrade, Ismael Silva, Sidney Muller, Tom Jobim.Surgiu também gente que ainda está aí, como Dorival Caymmi, Paulinho da Viola, Turíbio Santos, Elton Medeiros, Joyce, Chico Buarque, Oscar Niemeyer, Alaíde Costa, Aldir Blanc e Chico Buarque.

Com 264 páginas, "Timoneiro" não se aprofunda, mas relata em ordem cronológica as atividades desenvolvidas por Hermínio desde que ele, aos nove anos, elegeu-se presidente do centro cívico do colégio em que estudava no subúrbio de Deodoro, na zona oeste. Ali o garoto encenou peças e saraus de declamação de poesia.Foi o princípio de tudo. Na década de 50, passou a freqüentar auditórios de rádios, conhecendo artistas dos quais era fã. Também começou a escrever em publicações especializadas em música e em rádio. Virou poeta. Em 1961, lançou seu primeiro livro, "Chove Azul em teus Cabelos", que reúne 19 poemas curtos.Hermínio tornou-se letrista no início da década de 60. Compunha com Antônio Carlos Brandão Ribeiro, seu colega na ABV (Associação Brasileira de Violão). Com quatro canções da dupla, chegou a ser gravado um compacto em 1962. Foi sua estréia na música como autor.A parceria abriu a porteira do letrista. Desde então compôs com Cartola, Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Chico Buarque, Paulinho da Viola, João Bosco, Eduardo Gudin, Ismael Silva, Sueli Costa, Francis Hime, Antônio Adolfo, Pixinguinha, Moacyr Luz e até Roberto Frejat.O homem que por acaso descobriu Clementina de Jesus cantando na Taberna da Glória continua ativo.

Recentemente participou do projeto que homenageou o parceiro Maurício Tapajós, no CD "Sobras Completas", dez anos após a sua morte. Continua escrevendo, compondo e planejando."Eu não vim ao mundo para fazer gracinhas", afirma ele no livro "Timoneiro".

TRECHO
"Ao longo dos anos, Hermínio foi herdando objetos pessoais de amigos queridos, peças que ele conserva como verdadeiros talismãs. A bíblia pousada sobre uma cômoda em seu quarto foi presente de Aracy de Almeida, assim como o retrato da cantora pintado por Di Cavalcanti [...]. Os óculos de Jota Efegê vigiam o escritório, e os sapatos do cronista regularmente saem para caminhar nos pés de Hermínio, que só não experimentou o vestido de Dalva de Oliveira guardado no armário porque o tamanho não lhe serve."
Extraído de "Timoneiro", de Alexandre Pavan