sábado, 3 de fevereiro de 2007

Jornal do Commercio - 22/01/07

O timoneiro da cultura brasileira
Por Márcio Erthal

Ainda ecos das comemorações dos 70 anos de Hermínio Bello de Carvalho. Além do lançamento, pela Biscoito Fino, da caixa “Timoneiro”, reunindo cinco CDs com canções escritas pelo poeta e parceiros, chega às livrarias, via Casa da Palavra, “Timoneiro”, perfil biográfico escrito pelo jornalista Alexandre Pavan. "O livro tem esse nome porque, além da óbvia referência à musica “Timoneiro” (sucesso do poeta em parceria com Paulinho da Viola), essa palavra ajuda a definir a presença de Hermínio na cultura brasileira. Ele é um timoneiro no barco da música brasileira, sempre pensando projetos, shows ou discos para divulgar a grande diversidade cultural do país. Ele nunca se preocupou apenas com a própria obra, ao contrário, em todo o momento está jogando luzes nos mais diversos personagens que passaram por sua vida: Elizeth Cardoso, Pixinguinha, Maurício Tapajós, Clementina de Jesus, Carlos Drummond de Andrade e muitos outros", explica Pavan. Para Pavan, é impossível contar a história da música popular brasileira dos últimos 50 anos sem citar Hermínio Bello de Carvalho. "Poucos artistas são tão multifacetados como ele, que atua como compositor, produtor de discos, diretor de shows e agitador cultural", conta.

Desprovido de preconceitos e dispensando rótulos, Hermínio acostumou-se a ouvir de tudo um pouco e não gosta de ser associado a nenhum movimento artístico. “Sua bússola como criador, ele costuma dizer, é Mário de Andrade, seu guru. Citando o poeta, ele não se cansa de repetir que ‘é preciso abrasileirar o brasileiro’”. O livro traz algumas "herminices" - por sugestão da mulher de Pavan, a também jornalista Carolina Costa. "Ela foi a primeira leitora do livro. Quando estava para concluir os últimos capítulos, sugeriu que eu acrescentasse mais histórias do cotidiano de Hermínio. Dessa sugestão saíram os pequenos textos, a maior parte relatos bem-humorados de como o poeta se relaciona com os amigos", explica. Pavan iniciou em 2003 a pesquisa que resultou no livro, que só começou a ganhar forma em, meados de 2005, mas só foi concluído em setembro do ano passado. A principal fonte para a pesquisa de Pavan foi o rico acervo pessoal que Hermínio acumulou ao longo da carreira - gravações caseiras, fotos, recortes de jornais e revistas, cartas, roteiros de shows e discos, manuscritos. "Generosamente, o poeta colocou tudo isso à minha disposição", conta.

“Timoneiro” vem acompanhado de “Manuscrito Sonoro”, CD com poemas e canções inéditas de Hermínio Bello de Carvalho. As letras e a ficha técnica podem ser consultadas na edição, que reúne ainda referências bibliográficas e discografia, com composições e produções musicais do artista. "Esse disco foi produzido pelo músico paulistano Luiz Ribeiro, parceiro de Hermínio. É bom que se diga que não é um CD convencional, porque foi idealizado para, de certa forma, dialogar com o texto do livro. Gostei muito do resultado. Ali há poemas e canções inéditas de Hermínio nas interpretações do próprio autor e também de Paulinho da Viola, Zé Renato, Moacyr Luz, Zélia Duncan, entre outros. Enfim, é a trilha sonora do livro", finaliza o autor.