segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Estado de S.Paulo - 23/02/07


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O Popular (GO) - 24/02/07


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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Revista Rolling Stone - 02/07


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Revista Vida Simples - 03/07


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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Programa Metrópolis (TV Cultura)



Reportagem sobre o livro "Timoneiro" em Windows Media Player:
http://www.tvcultura.com.br/metropolis/arquivo/arquivo-pordata.asp?datacerta=2007/02/19

Blog do DJ Zé Pedro - 02/07

Salve, Hermínio
Por Zé Pedro

Hermínio é um Deus da música.Começou como um anjo aprendiz de cabelos encaracolados, hoje já completamente brancos, atestando sua sabedoria.O livro “Timoneiro” sobre sua vida e obra nos traz vários presentes.Primeiro, um bem palpável, que é o CD de poemas e canções inéditas que vem encartado.Outro, as introduções aos capítulos do livro denominados “Herminices”, que descrevem casos engraçados de Herminio pela vida, sempre com tiradas bem humoradas. Para mim são bem mais do que isso: sutilezas do temperamento desse homem sensível.E finalmente e por terceiro, o livro inteiro.Suas memórias muito bem conservadas e roteirizadas pelo o autor Alexandre Pavan.Aqui você vai saber de tudo:Como a Deusa Negra Clementina de Jesus apareceu nos céus da canção brasileira.A maneira como Araci de Almeida era tratada no meio musical e o respeito que Hermínio fez somar ao seu trabalho, muito antes de sua figura tornar-se caricata e tragicômica junto ao povo brasileiro por sua participação como jurada do programa Silvio Santos.E principalmente como a vida foi generosa e saborosa com Hermínio proporcionando-lhe estar sempre na hora certa dos momentos perfeitos da nossa música.Um batalhador pelas artes, esteve envolvido em projetos de grande sucesso (como o importante espetáculo Rosa de Ouro de 1965 ) e outros nem tanto causando transtornos em sua vida pessoal que nunca atingiram seus idealismos e vontades.Elizeth Cardoso, uma de suas cantoras preferidas é citada várias vezes ao longo do livro (inclusive revela-se aqui toda a carpintaria do show inesquecível que ela fez ao lado de Jacob Do Bandolim em 1968 no Teatro João Caetano no Rio), assim como a vinda da cantora Sarah Vaughan ao Brasil para fazer um disco orientado inicialmente por Hermínio.Suas canções e parcerias musicais também estão por lá. Um compositor importantíssimo para se entender nossa música. Até Pixinguinha e Villa Lobos receberam letras suas.Um livro fundamental em homenagem à este grande homem.Um livro fundamental para nós brasileiros tão desatentos que ainda podemos render aplausos em vida à ele: Hermínio Bello de Carvalho.
http://djzepedro.blogspot.com/2007/02/salve-hermnio.html

Leituras (TV Senado) - 02/07


Assista a um trecho do programa:
http://www.senado.gov.br/tv/programas/leituras/LE150207_M_1.rm

Obs. É necessário ter o Real Player instalado.

Jornal do Brasil - 13/01/07


Hermínio em belo perfil
Por Alvaro Costa e Silva

Aos 19 anos, começando a escrever sobre música, Hermí­nio Bello de Carvalho tinha um sonho: colaborar com a Revista de Música Popular. A oportunidade surgiu às avessas.
No número 12 da revista, Manuel Bandeira escreveu um texto, intitulado "Literatura de violão", no qual fazia uma análi­se do instrumento - que Ban­deira arranhava - e de seu re­pertório. Apesar da pouca ida­de, Hermínio encontrou algu­mas desafinadas do poeta e re­solveu fazer uma carta, apon­tando-as. Para ter certeza de que ela seria lida, foi procurar o crítico Lúcio Rangel, responsá­vel pela edição da RMP, na agência de publicidade em que ele também trabalhava. Lúcio gostou tanto que quis publicar a carta como artigo assinado. Antes, porém, levou Hermínio pa­ra encontrar-se com Bandeira que não apenas concordou com o teor da crítica - disse que Her­mínio tinha completa razão.
Esta e outras histórias fazem parte do perfil biográfico "Timoneiro", escrito com rigor pelo jor­nalista Alexandre Pavan, que teve acesso aos famosos arqui­vos do pesquisador. Um capítu­lo especial - como não poderia deixar de ser - relata o encontro de Hermínio com Clementina de Jesus, na Taberna da Glória. É um dos momentos mais lumi­nares da história da música bra­sileira - de qualquer música.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Correio Braziliense - 10/02/07

Gente que faz
Por Cláudio Ferreira

A curiosidade leva o homem a searas impressionantes. Derruba mitos, supera dificuldades e reverte o caminho que o destino parece, a princípio, traçar para cada um. Pois foi a curiosidade o combustível que moveu a carreira de Hermínio Bello de Carvalho, transposta agora para um perfil biográfico — felizmente, com o biografado ainda vivo. Menino pobre do Rio de Janeiro, um dos filhos de uma família grande, conviveu com figuras de proa da MPB desde a adolescência. Apaixonou-se pelo ambiente glamouroso dos artistas, descobriu-se também um deles e fez da luta por espaço para a música brasileira ao mesmo tempo seu ganha-pão e sua missão.

O livro foi publicado para comemorar os 70 anos de Hermínio, completados em 2005. E mostra que ele não perdeu a oportunidade de estar na época certa — adolescente nos anos 50 — na cidade certa. Era o que poderia ser chamado de “entrão”: fingia conhecer os artistas de prestígio da Rádio Nacional para conseguir entrada livre no auditório da Praça Mauá; aproximou-se de talentos como Heitor Villa-Lobos, Manuel Bandeira e Radamés Gnatalli; foi “adotado” por famosos como Elizeth Cardoso.

Tudo o que ele tinha a oferecer era um pouco de conhecimento em poesia e música, além de simpatia e iniciativa. Começou como repórter de revista de celebridades, passou a radialista, palestrante, produtor de shows e discos, compositor, cantor e poeta com vários livros publicados. Mas se nada disso passasse à posteridade, seu nome estaria escrito no livro de ouro da MPB como descobridor de tesouros.

O mais famoso foi Clementina de Jesus. No início dos anos 60, ele viu a senhora negra, empregada doméstica, num bar chamado Taberna da Glória, cantando músicas de origem africana. Logo produziu um show para “apresentá-la” ao Brasil. “Rosas de Ouro”, em 1964, rendeu disco, e foi um marco na história da MPB. Clementina trocou a cozinha pela vida artística. De quebra, o show trouxe aos holofotes novamente Araci Côrtes, estrela do teatro musical dos anos 20 e 30 e revelou um compositor estreante, Paulo Cesar Baptista de Faria, o Paulinho da Viola.

Outra proeza? Hermínio reabilitou Cartola para o mundo artístico. O sambista, hoje lembrado com um dos maiores do gênero, era lavador de carros, tinha uma vida absolutamente distante da fama. Pois o “agitador cultural” o resgatou e o incentivou a abrir um bar, chamado Zicartola (Zica era a mulher do sambista), que se tornou palco de shows memoráveis de samba.

Na contabilidade de Hermínio Bello de Carvalho, o crédito é grande. Foi ele o idealizador do Projeto Pixinguinha, que, nas décadas de 70 e 80, levou artistas conhecidos a todas as regiões do país, a preços populares. Do mesmo modo que revelava novos cantores, como Simone, retirava da aposentadoria antigas estrelas da Rádio Nacional, como Zezé Gonzaga. Sempre com a preocupação de abrir espaços para a música que não era normalmente veiculada no rádio ou na televisão.

Personalidade forte no meio artístico rendeu a ele brigas famosas — alimentadas também pelos exageros alcóolicos. Brigas também foram constantes quando Hermínio teve que lutar contra a burocracia ou contra a falta de continuidade das políticas públicas para a área cultural. Calma, só para compor, com dezenas de parceiros do quilate de Pixinguinha, Paulinho da Viola e Martinho da Vila. Ele promoveu até parcerias póstumas, colocando letra em melodias de Villa-Lobos e Jacob do Bandolim, por exemplo, músicos que ele tinha conhecido. E era um bom anfitrião: até a norte-americana Sarah Vaughan freqüentou o apartamento dele no bairro da Glória.

O livro não se detém em aspectos da vida pessoal do compositor. Prefere listar suas atividades múltiplas: de “produtor” de um desfile da Estação Primeira de Mangueira a apresentador de programas culturais em uma emissora de rádio do Paraná. Brasília quase mereceu uma de suas empreitadas: ele apresentou a Oscar Niemeyer e ao então governador José Aparecido de Oliveira , em meados dos anos 80, o projeto de um super centro cultural (que seria chamado de Complexo Mário de Andrade), com espaços para música, artes visuais, cinema, biblioteca e culinária. Esbarrou num ponto — teria que morar na cidade por um tempo. O projeto morreu aí.

Em quase 50 anos de atividades artísticas, Hermínio teve a preocupação constante de registrar tudo o que fazia. Lutava para ter uma gravação(de um show ao vivo ou caseira), um livro, fotos, placas, qualquer documento que perpetuasse aquele empreendimento. O material, ele nomeava “resíduo cultural”. O perfil biográfico escrito pelo jornalista Alexandre Pavan pega este mote. Reduz o lado pessoal a “pílulas” de texto entre os capítulos, batizadas de “Herminices”. E procura registrar a carreira deste autêntico “bicão”, um dos enxeridos mais bem-sucedidos dos últimos tempos.

Fotos do lançamento em São Paulo


Autógrafos no Bar Genial


Hermínio e Pavan gravam entrevista
para o programa Metrópolis (TV Cultura)


O compositor Luiz Ribeiro,
produtor do CD "Manuscrito Sonoro"


Hermínio autografa para as cantoras
Gisella (em pé) e Suzana Salles

sábado, 3 de fevereiro de 2007

*****

EntreLivros - fevereiro/07



Jornal do Brasil - 30/01/07


O Forrest Gump da MPB
Por Marcelo Migliaccio

Um dos personagens mais presentes na história da Música Popular Brasileira nos últimos 50 anos acaba de ganhar uma biografia que documenta mais a própria MPB do que o biografado – o poeta, cantor e produtor musical Hermínio Bello de Carvalho.
Nas páginas de “Timoneiro” (264 págs., editora Casa da Palavra), o jornalista Alexandre Pavan conta como o adolescente que assistia maravilhado aos programas de auditório da Rádio Nacional, na Praça Mauá, foi sendo tragado pelo mundo musical.

- Num primeiro momento, eu era só um espectador, mas, aos 16 anos, virei repórter de uma revistinha furreca e aquilo me abriu as portas daquele universo encantado - lembra Hermínio. - Entrevistava ídolos como Linda Batista e Dalva de Oliveira.
Ao mesmo tempo em que já ganhava a vida como escriturário, colaborava com outras publicações e se enfronhava ainda mais no meio musical:

- Sabe lá o que é ouvir Francisco Alves tocando violão dentro do carro da Linda e ir com ela a Petrópolis para conhecer o presidente Getúlio Vargas?
Mas a época de repórter-tiete durou pouco e o livro, que terá lançamento em São Paulo no próximo dia 12, mostra a carreira de compositor de Hermínio, iniciada com o samba “Alvorada”, composição de 1964 em parceria com Cartola.

- O letrista foi aos poucos abafando o poeta - diz Hermínio, que lançou 20 livros, entre eles a biografia de Aracy de Almeida, “Araca - Arquiduquesa do Encantado” e “Embornal”, de poemas.
Atualmente envolvido com uma oficina na Escola Portátil de Musica, na Glória, que forma músicos com ênfase na linguagem do choro, Hermínio diz que seu trabalho é passar o que aprendeu com tanta gente boa.

- A garotada está diante de um senhor de cabeleira branca que conviveu com Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Radamés Gnattali e Sarah Vaughan. Eles se emocionam quando vêem programas que produzi com Isaurinha Garcia e Clementina de Jesus.
Encartado no livro “Timoneiro” está o CD “Manuscrito Sonoro”, com poemas e canções de Hermínio nas vozes do próprio e de Zélia Duncan, Zé Renato, Moacyr Luz e Joyce, entre outros. O destaque é a inédita “Obrigado, Cartola”, parceria de Hermínio com Paulinho da Viola. Clementina de Jesus é um capítulo à parte, pois foi Hermínio quem a descobriu para o Brasil, na Taberna da Glória, em 1963. Ela foi uma das estrelas do musical “Rosa de ouro”, a grande virada na carreira de seu "padrinho".

- Comecei a fazer uma mistura de musica popular e erudita nos shows. Na época foi uma sensação, porque havia a predominância da bossa nova de um lado e da jovem guarda do outro. Dali, saiu o disco “Elizeth sobe o morro”, o maior da carreira da Elizeth Cardoso.

O livro de Pavan contempla ainda as chamadas “herminices”, que, segundo Zélia Duncan escreve no prefácio, são “causos” em que o biografado imprime sua marca bem-humorada. Um deles foi seu inconformismo com o fim da novela “Belíssima”, exibida pela Rede Globo recentemente.

- Eu adoro a Fernanda Montenegro e ficou um vazio quando a personagem dela saiu do ar - conta. - Aí comecei a escrever outros capítulos e mandei por e-mail para amigos. Criei até uma irmã gêmea para a Bia Falcão.
Não é difícil ver que Hermínio sente um grande prazer ao olhar pelo retrovisor, no qual enxerga tantas passagens que não cabem numa página de jornal. São suas empreitadas em 12 anos de Funarte, o projeto Seis e Meia, a luta pela moralização dos direitos autorais, os discos que produziu, os musicais.

- Odeio corrupção, hipocrisia, foi uma herança que aprendi com toda essa gente que suportou minha insuportável vocação operária dentro da área cultural. Acho que mereço o epitáfio que criei para a minha lápide: '”Não vim ao mundo para fazer gracinha”.

English version:
http://www.big-jb.com.br/big/noticia.aspx?id=3174

CartaCapital - 24/01/07


Enciclopédia de sons
Por Pedro Alexandre Sanches

A existência de uma bibliografia especializada que acompanhe a musica brasileira tem sido um ponto frágil constante em sua história. Se, por um lado, não é possível falar em resolução à vista, por outro é inegável que 2006 foi um ano de salto quantitativo e qualitativo para o setor. Às vésperas do Natal, obedecendo a previsíveis ditames mercadológicos, as editoras locais promoveram uma enxurrada de lançamentos de livros históricos sobre a música daqui. Conceitualmente, a locomotiva que puxa o comboio se chama “Coleção Revista da Música Popular” (editado pela BemTe-Vi, em parceria com a Funarte), um esmerado volume de 776 páginas que recupera, na íntegra e em formato facsímile, o conteúdo da revista de mesmo nome, coordenada entre 1954 e 1956 pelo crítico Lúcio Rangel. E o volume acende a questão: estudar e refletir sobre musica deixou de ser hábito de um país sempre celebrado como extremamente musical?

Reexaminada mais de 50 anos depois, a revista parece porta-voz de um momento de florescência, uma espécie de precursora involuntária da bossa nova, em termos gráficos, jornalísticos e bibliográficos. E evidencia as mudanças profundas que varreram essa área desde então. Fundamentalmente, a “Revista da Musica Popular” encarava seu objeto de interesse de modo multidisciplinar: os militantes do jornalismo musical da época se alternavam na escrita com colaboradores como os músicos Almirante, Ary Barroso e Guerra Peixe, os poetas Manuel Bandeira e Vinicius de Moraes, os escritores Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, artista plástico Di Cavalcanti, a historiadora Mariza Lira, e assim por diante. "Não sei por que foi se dissolvendo aquele modo de trabalhar. Talvez as gravadoras, a comercialização, as vendagens mirabolantes entre os anos 60 e 90, as rivalidades", tenta decifrar uma das figuras empenhadas na reedição, Maria Lucia Rangel, filha de Lucio e hoje integrante da equipe da gravadora Biscoito Fino. ''Antigamente, todos se encontravam nos bares, conversavam sobre musica, literatura, cinema. Hoje, fazemos isso em casa, quando dá, com poucos amigos, sem a surpresa pela chegada de alguém que poderia acrescentar algo ao papo”. A leitura da antiga revista desvenda, às vezes, meandros curiosos.

No numero 14 (que seria também o último da publicação), um "jovem musicólogo" contestava um artigo anterior em que Manuel Bandeira praguejara contra o violão, em defesa do violino. Em tom respeitoso, mas veemente, a "carta ao poeta” denunciava o preconceito por trás da distinção que Bandeira fizera entre o instrumento "erudito" e o "popular". E a revista, ao publicar a carta, esclarecia: o estudo do poeta datava de 1924, e fora apenas republicado na revista. O jovem musicólogo, futura eminência parda do samba e da memória musical brasileira, se chamava Hermínio Bello de Carvalho.

Essa mesma história vai reaparecer em outro livro da atual safra, “Timoneiro - Perfil Biográfico de Hermínio Bello de Carvalho” (Casa da Palavra, 264 págs., mais CD inédito), do jovem jornalista Alexandre Pavan. Ali, fica-se sabendo que a interdisciplinaridade dos anos 50 era uma realidade até mesmo física: segundo Pavan, Lúcio Rangel, após ler a carta do desconhecido musicólogo de 21 anos, levou-o em pessoa à casa do poeta, para um contato cara a cara. E teria partido de Bandeira a sugestão de publicar a carta-resposta. Preciso e detalhista, o perfil é daqueles que convida à reflexão: trata-se de uma homenagem emotiva, mas, de modo análogo ao que o jovem Hermínio empregara com Bandeira, não deixa de ser incisivo ou de tocar em assuntos incômodos. Embrenha-se por situações controversas em que o perfilado se envolveu e chega a abordar, de modo sutil, a fase de íntima dependência entre Hermínio e o Estado, nos anos em que dirigiu a Funarte e elaborou trabalhos históricos como o Projeto Pixinguinha - como a narrativa explicita de modo contundente, em 1990 o então presidente Fernando Collor faria desmoronar num sopro muito do que Hermínio construíra na década anterior.


Se controvérsia e discrição andam lado a lado no livro de Pavan, integralmente apoiado pelo homenageado, o inverso ocorre com a vedete comercial da temporada, o consistente ensaio biográfico “Roberto Carlos em Detalhes” (Planeta, 504 págs.), assinado pelo historiador e jornalista Paulo Cesar de Araújo. O assunto tomou a mídia dita cultural no fim do ano, menos por seu valor intrínseco que pela desaprovação do biografado, que disse em entrevista coletiva que sua história é seu patrimônio e que só a ele caberia usá-lo. Os advogados de Roberto fizeram chegar à editora, na ultima sexta-feira 12, uma notificação extrajudicial pedindo a retirada de circulação do livro em cinco dias. Com 60 mil exemplares já colocados no mercado, a Planeta não acatou o pedido. "Os autores da notificação usam argumentos com os quais não concordamos. Pretendemos provar na Justiça que publicamos uma obra séria e respeitosa, à altura da grandeza do artista", diz Pascoal Soto, diretor editorial da Planeta. Segundo os advogados, a editora teria cometido os delitos de "invasão de privacidade", "ofensas morais" e "uso indevido da imagem" do cantor.

Embora travada em meio mais tradicional, a disputa faz lembrar outra simultânea, entre Daniela Cicarelli e o site YouTube, pelo menos no tópico "invasão de privacidade", que em certos momentos incomoda celebridades, mas quase o tempo todo ajuda a nutrir sua popularidade e a engordar seus patrimônios. Araújo procura defender seu trabalho, nitidamente construído com cuidado e recheado de apreciações positivas sobre o biografado:

– Isso aconteceu pela confluência de dois fatores, a interpretação distorcida que Roberto fez (apesar de não ter lido o livro, como afirma seu advogado) e a apropriação do caso pela mídia. Quando Roberto disse que o livro era sensacionalista e ofendia a ele e a pessoas queridas, segundo ele expostas ao ridículo, começaram as especulações sobre quais seriam as passagens do livro, um prato cheio para os fofoqueiros de plantão. O resultado é que o que é secundário no livro (as passagens da vida pessoal do artista) acabou se tornando tema central na mídia.

Pode-se argumentar que, em parte, o próprio autor abriu margem para contestações, uma vez que, por exemplo, aboliu qualquer crédito a frases, depoimentos e histórias que retirou dos arquivos da imprensa brasileira. As citações não identificadas confundem o leitor, pois não aparecem contextualizadas e transcrevem no tempo presente falas de personalidades já mortas. Araújo defende essa opção, dizendo que segue o modelo de autores como Ruy Castro e Fernando Morais, de listar as fontes apenas no final dos livros.

Mas a ironia maior do caso é que Araújo é também autor de um estudo fundamental que virou referência e tem colaborado para demolir preconceitos de classe e fronteiras entre a MPB dita "culta" e a musica mais "popular" do Brasil. Trata-se de “Eu Não Sou Cachorro, Não” (Record, 2000), uma defesa dos artistas apelidados de "cafonas", argumentada de modo sólido e sofisticado. O autor fala do paradoxo em que a zanga de Roberto o colocou: "Com Eu Não Sou Cachorro, Não, cheguei a brigar pelo reconhecimento de artistas para os quais as elites culturais sempre viraram as costas. E eis que me deparo com a oposição do mais importante de todos eles". Um certo descaso na documentação das fontes de pesquisa acomete também outro título, “Gonzaguinha e Gonzagão -Uma História Brasileira” (Ediouro, 382 págs.), da jornalista Regina Echeverria, um cruzamento corajoso e original das trajetórias de Luiz Gonzaga, o genial e autodidata "Rei do Baião", que se assumia como apoiador orgulhoso da ditadura militar, e de seu filho esquerdista, politizado e egresso da dita "MPB universitária". "Tratar ao mesmo tempo de musica, cultura, arte, paternidade, herança e conflito foi um desafio a mais", resume a autora.

Em seu livro, depoimentos e passagens extraídas de outros livros vêm dissolvidos na narrativa, o que Regina assume como erro involuntário: "Foi, certamente, ‘falha nossa’. Imaginei que esses trechos deveriam ter qualquer sinal gráfico que diferenciasse a entrada de textos alheios. Pretendo corrigir nas próximas edições".
Um colega de geração e convicções de Gonzaguinha merece uma biografia consentida à moda da de Hermínio Bello de Carvalho. “Travessia - A Vida de Milton Nascimento” (Record, 406 págs.) foi escrito por Maria Dolores, uma jovem jornalista mineira que conquistou acesso e apoio direto do biografado. O esforço resulta em trabalho amplo e minucioso, mas portador do dilema típico daquelas biografias que não querem problemas como os vividos pelo autor do ensaio não autorizado de Roberto Carlos: é pródigo em narrar os sucessos e as glórias de Milton, mas bem mais comedido com as dificuldades e os temas espinhosos.

Entre os pólos da biografia idílica de Milton e da aventura livre e não consenti; da do livro sobre Roberto encontra-se outro dos fatores que mantém em atraso a literatura biográfica no País. Se lá fora pululam biografias incontáveis, das mais às menos respeitosas, aqui tanto as biografias permitidas como as proibidas parecem cair em becos sem saída equivalentes, num tiroteio de temores judiciais e abusos ocasionais de parte a parte. Num extremo e no outro, mantêm-se travados a pesquisa e o estudo de uma história monumental que, afinal de contas, é coletiva, de interesse geral e de domínio publico. Desse ambiente acirrado emergem então iniciativas que, embora também relevantes, se caracterizam por ter menor envergadura e ambição, como os livros de entrevistas e compilações de artigos jornalísticos. É o caso da reedição de “Nada Será Como Antes – MPB Anos 70” (Senac Rio, 390 págs.), de Ana Maria Bahiana, que resgata boa parte do acompanhamento apaixonado da musica dos 70 pela jornalista.

Outro é o curioso “Estação Brasil - Conversas com Músicos Brasileiros” (Editora 34, 248 págs.), uma coletânea de entrevistas feitas pela jovem jornalista e tradutora argentina Violeta Weinschelbaum. Com perguntas que talvez não ocorressem a entrevistadores locais, ela aprofunda a compreensão sobre artistas brasileiros. Ao mesmo tempo, adota como ponto de partida obsessivo o imaginário tropicalista, o que faz refletir sobre o poder quase absoluto da Tropicália entre os admiradores não brasileiros da musica daqui.

Por fim, há o caso à parte da experiência de Gilda Mattoso em “Assessora de Encrenca” (Ediouro, 240 págs.). Ex-esposa de Vinicius de Moraes e assessora de imprensa de Caetano Veloso e Gilberto Gil por décadas, Gilda constrói um registro de memória despretensioso e potencialmente saboroso. Infelizmente, não segue o mote dado pelo título inspirado, e prefere descrever detalhes dos palácios e hotéis de luxo freqüentados pela MPB mundo afora a relatar as agruras e encrencas da vida nômade.

A grande diversidade obtida pelo contraste entre todos esses títulos recém-desovados denota uma trilha ainda titubeans: te e espinhosa na construção de uma historiografia da música brasileira, por vezes até sabotada por alguns dos que seriam os principais interessados em sua preservação. Mas da diversidade se faz também um o convite à volta da reflexão, e se espera que à enxurrada de Natal não se siga mais estiagem ao longo do ano inteiro.

Jornal do Brasil - 12/01/07

Coluna Supersônicas
Por Tárik de Souza

Jornal do Commercio - 22/01/07

O timoneiro da cultura brasileira
Por Márcio Erthal

Ainda ecos das comemorações dos 70 anos de Hermínio Bello de Carvalho. Além do lançamento, pela Biscoito Fino, da caixa “Timoneiro”, reunindo cinco CDs com canções escritas pelo poeta e parceiros, chega às livrarias, via Casa da Palavra, “Timoneiro”, perfil biográfico escrito pelo jornalista Alexandre Pavan. "O livro tem esse nome porque, além da óbvia referência à musica “Timoneiro” (sucesso do poeta em parceria com Paulinho da Viola), essa palavra ajuda a definir a presença de Hermínio na cultura brasileira. Ele é um timoneiro no barco da música brasileira, sempre pensando projetos, shows ou discos para divulgar a grande diversidade cultural do país. Ele nunca se preocupou apenas com a própria obra, ao contrário, em todo o momento está jogando luzes nos mais diversos personagens que passaram por sua vida: Elizeth Cardoso, Pixinguinha, Maurício Tapajós, Clementina de Jesus, Carlos Drummond de Andrade e muitos outros", explica Pavan. Para Pavan, é impossível contar a história da música popular brasileira dos últimos 50 anos sem citar Hermínio Bello de Carvalho. "Poucos artistas são tão multifacetados como ele, que atua como compositor, produtor de discos, diretor de shows e agitador cultural", conta.

Desprovido de preconceitos e dispensando rótulos, Hermínio acostumou-se a ouvir de tudo um pouco e não gosta de ser associado a nenhum movimento artístico. “Sua bússola como criador, ele costuma dizer, é Mário de Andrade, seu guru. Citando o poeta, ele não se cansa de repetir que ‘é preciso abrasileirar o brasileiro’”. O livro traz algumas "herminices" - por sugestão da mulher de Pavan, a também jornalista Carolina Costa. "Ela foi a primeira leitora do livro. Quando estava para concluir os últimos capítulos, sugeriu que eu acrescentasse mais histórias do cotidiano de Hermínio. Dessa sugestão saíram os pequenos textos, a maior parte relatos bem-humorados de como o poeta se relaciona com os amigos", explica. Pavan iniciou em 2003 a pesquisa que resultou no livro, que só começou a ganhar forma em, meados de 2005, mas só foi concluído em setembro do ano passado. A principal fonte para a pesquisa de Pavan foi o rico acervo pessoal que Hermínio acumulou ao longo da carreira - gravações caseiras, fotos, recortes de jornais e revistas, cartas, roteiros de shows e discos, manuscritos. "Generosamente, o poeta colocou tudo isso à minha disposição", conta.

“Timoneiro” vem acompanhado de “Manuscrito Sonoro”, CD com poemas e canções inéditas de Hermínio Bello de Carvalho. As letras e a ficha técnica podem ser consultadas na edição, que reúne ainda referências bibliográficas e discografia, com composições e produções musicais do artista. "Esse disco foi produzido pelo músico paulistano Luiz Ribeiro, parceiro de Hermínio. É bom que se diga que não é um CD convencional, porque foi idealizado para, de certa forma, dialogar com o texto do livro. Gostei muito do resultado. Ali há poemas e canções inéditas de Hermínio nas interpretações do próprio autor e também de Paulinho da Viola, Zé Renato, Moacyr Luz, Zélia Duncan, entre outros. Enfim, é a trilha sonora do livro", finaliza o autor.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Folha de S.Paulo - 02/01/07

Livro traz perfil do múltiplo Hermínio
Por Sérgio Torres, da Sucursal do Rio

O perfil biográfico recém-lançado do ativista cultural Hermínio Bello de Carvalho tem o mérito de condensar num único volume informações sobre as diversas atividades em que ele, a partir dos anos 40, ainda menino, se envolveu na música, na literatura, no teatro e nos espetáculos.

Editado pela Casa da Palavra, "Timoneiro" foi escrito pelo jornalista Alexandre Pavan, em um trabalho de pesquisa documental e de entrevistas iniciado em 2003, ainda sem saber, à época, se viraria livro ou algum outro produto em homenagem ao compositor, escritor, poeta, cantor, diretor de shows, idealizador de projetos e revelador de artistas, entre outras tarefas a que Hermínio ainda se dedica, aos 71 anos.

O próprio Hermínio _que já afirmou detestar rótulos, mas traz consigo o de impaciente com quem não conhece direito_ aceitou abrir seus lendários arquivos ao pesquisador.E aí surgiu dos guardados de décadas, em forma de fotos, textos e fitas, gente que já morreu, mas está presente na memória da cultura nacional: Jacob do Bandolim, Cartola, Aracy de Almeida, Pixinguinha, Villa-Lobos, Elizeth Cardoso, Carlos Cachaça, Clementina de Jesus, Carlos Drummond de Andrade, Ismael Silva, Sidney Muller, Tom Jobim.Surgiu também gente que ainda está aí, como Dorival Caymmi, Paulinho da Viola, Turíbio Santos, Elton Medeiros, Joyce, Chico Buarque, Oscar Niemeyer, Alaíde Costa, Aldir Blanc e Chico Buarque.

Com 264 páginas, "Timoneiro" não se aprofunda, mas relata em ordem cronológica as atividades desenvolvidas por Hermínio desde que ele, aos nove anos, elegeu-se presidente do centro cívico do colégio em que estudava no subúrbio de Deodoro, na zona oeste. Ali o garoto encenou peças e saraus de declamação de poesia.Foi o princípio de tudo. Na década de 50, passou a freqüentar auditórios de rádios, conhecendo artistas dos quais era fã. Também começou a escrever em publicações especializadas em música e em rádio. Virou poeta. Em 1961, lançou seu primeiro livro, "Chove Azul em teus Cabelos", que reúne 19 poemas curtos.Hermínio tornou-se letrista no início da década de 60. Compunha com Antônio Carlos Brandão Ribeiro, seu colega na ABV (Associação Brasileira de Violão). Com quatro canções da dupla, chegou a ser gravado um compacto em 1962. Foi sua estréia na música como autor.A parceria abriu a porteira do letrista. Desde então compôs com Cartola, Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Chico Buarque, Paulinho da Viola, João Bosco, Eduardo Gudin, Ismael Silva, Sueli Costa, Francis Hime, Antônio Adolfo, Pixinguinha, Moacyr Luz e até Roberto Frejat.O homem que por acaso descobriu Clementina de Jesus cantando na Taberna da Glória continua ativo.

Recentemente participou do projeto que homenageou o parceiro Maurício Tapajós, no CD "Sobras Completas", dez anos após a sua morte. Continua escrevendo, compondo e planejando."Eu não vim ao mundo para fazer gracinhas", afirma ele no livro "Timoneiro".

TRECHO
"Ao longo dos anos, Hermínio foi herdando objetos pessoais de amigos queridos, peças que ele conserva como verdadeiros talismãs. A bíblia pousada sobre uma cômoda em seu quarto foi presente de Aracy de Almeida, assim como o retrato da cantora pintado por Di Cavalcanti [...]. Os óculos de Jota Efegê vigiam o escritório, e os sapatos do cronista regularmente saem para caminhar nos pés de Hermínio, que só não experimentou o vestido de Dalva de Oliveira guardado no armário porque o tamanho não lhe serve."
Extraído de "Timoneiro", de Alexandre Pavan

Jornal Musical - 14/12/06


Hermínio Bello de Carvalho ganha perfil biográfico
Por Monica Ramalho

O jornalista Alexandre Pavan lança agora o livro Timoneiro, um perfil biográfico do polivalente Hermínio Bello de Carvalho (na foto, com Zélia Duncan). Descobridor de Clementina de Jesus, incentivador de Elizeth Cardoso, Aracy de Almeida e Zezé Gonzaga, parceiro de Pixinguinha, apresentador das históricas Noites da Cartola Dourada do bar Zicartola e criador de espetáculos como Rosa de Ouro (1965) e O samba é minha nobreza (2002), entre uma miríade de feitos artísticos para lá de relevantes, Hermínio é detentor de um soberbo acervo sobre música popular brasileira.

Ele e Pavan se conheceram há seis anos. "Eu estava fazendo um levantamento de pesquisadores musicais à Carta Capital e foi assim que conheci o Hermínio e o Heron Coelho, que na época já trabalhava com a poesia dele", lembra.Pavan e Coelho iniciaram as entrevistas com Bello de Carvalho sem grandes pretensões. "Um dia pensei: 'O Hermínio dedica tanto tempo à catalogação da vida de outros artistas, como é que até agora ninguém fez isso com ele?'".

Os setenta anos do homenageado serviram de gancho para a trinca sair atrás de patrocínio. "Primeiro, a Biscoito Fino lançou uma caixa com cinco discos de Hermínio, logo depois a Martins Fontes colocou na praça a antologia poética dele, Embornal, organizada pelo Heron, e agora fechamos a trilogia com este perfil biográfico", explica Pavan, que levou 15 meses para entregar o texto à Casa da Palavra.

O livro foi produzido com recursos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)."Durante a pesquisa, fiquei impressionado com o volume de trabalho do qual ele é capaz de dar conta. Em abril de 1965, por exemplo, ele gravou em uma única semana dois clássicos da música brasileira: os álbuns Rosa de Ouro e Elizeth sobe o morro. E isso porque a música era um hobby para ele, que durante 23 anos cumpriu expediente numa empresa de serviços navais de segunda a sexta, das 8h às 17h", pontua. O título cobre as ações de Hermínio até o a Escola Portátil de Música. "Pois é. O livro já sai defasado porque ele é muito ativo", brinca o jornalista.

E o que mais pode render o famoso acervo de Hermínio Bello de Carvalho? "A partir de janeiro vamos digitalizar, com suporte financeiro da Petrobras, quase tudo que ele reuniu ao longo da vida, incluindo mais de mil horas de gravações caseiras, em torno de cinco mil fotografias (entre elas, a original desta com Pixinguinha), uma quantidade considerável de recortes de jornais e revistas, além de roteiros de shows e áudios", revela Alexandre Pavan, em primeiríssima mão, ao Jornal Musical.Timoneiro será lançado no Rio de Janeiro, cidade do homenageado, nesta quinta-feira, 14 de dezembro, a partir das 18h30, no auditório da Associação Brasileira de Imprensa. O endereço é Rua Araújo Porto Alegre, 71, Centro.
http://www.jornalmusical.com.br/textoDetalhe.asp?iidtexto=562&filtro=0&pag=0,600,562,73&lk=0

Fotos do lançamento na ABI - 14/12/06

fotos: Claudio Carneiro

Hermínio e Zezé Gonzaga

Maurício Carrilho e Zé Renato

Hermínio e Maurício Azêdo,
presidente da ABI

Áurea Martins e Maurício Carrilho

Giulia Battesini,
sobrinha de Hermínio

Lançamento no Rio de Janeiro


Timoneiro da MPB homenageado na ABI

Claudio Carneiro, do site da Associação Brasileira de Imprensa


O jornalista Alexandre Pavan escolheu a ABI para lançar seu livro “Timoneiro”, um perfil biográfico do poeta, compositor e pesquisador da MPB Hermínio Bello de Carvalho. A noite de autógrafos, na quinta-feira, dia 14, no Auditório Oscar Guanabarino, transformou-se num grande espetáculo, com interpretações de nomes importantes de nossa música, como Zé Renato, Zezé Gonzaga, Áurea Martins e o violonista Maurício Carrilho entre outros. O Presidente da ABI, Maurício Azêdo, compareceu para dar seu abraço no amigo e ex-colega de escola Hermínio. O show-evento começou com a exibição de um documentário que, segundo o homenageado, estava perdido na Funarte e foi resgatado por ele. O vídeo contém imagens raras de Pixinguinha, Clementina de Jesus, Aracy de Almeida e Paulinho da Viola. Alexandre Pavan contou que conheceu Hermínio Bello de Carvalho em 2001, quando foi entrevistá-lo para a revista Carta Capital. A amizade entre os dois surgiu de imediato: — Minha idéia de lançar este livro foi traçar cronologicamente a carreira deste poeta que detesta o rótulo de pesquisador da música brasileira. No auditório onde se apresentou profissionalmente pela primeira vez — do qual elogiou a acústica —, Hermínio parecia estar à vontade, atuando como um mestre de cerimônias, contando histórias e convidando os artistas para suas apresentações. Zé Renato, acompanhado pelo virtuoso violão de Maurício Carrilho — filho de Altamiro — foram os primeiros. Logo depois, o homenageado elogiou o trabalho de pesquisa do autor: — O livro me deixa feliz e, ao mesmo tempo, muito preocupado. Pois constatei, aos 70 anos, que não sou um homem, mas uma lápide.

O ponto alto da festa foi quando Áurea Martins subiu ao palco para interpretar “Cobras e lagartos”, que Hermínio compôs com Sueli Costa. Em seguida, Zezé Gonzaga foi aplaudida de pé ao surpreender o compositor com um improviso. A noite ficou completa quando outro estudioso da MPB, o jornalista Sérgio Cabral, subiu ao palco e declarou: — O Hermínio é um Sérgio Cabral que deu certo. Eu penso algumas coisas que não realizo. Ele vai lá e faz, porque é um realizador. Vou ler o livro com grande interesse e, citando Noel Rosa, quero dizer que este meu amigo é um ser humano que não resta a menor dúvida. O livro “Timoneiro” foi editado pela Casa da Palavra. A obra inclui um CD encartado com o “Manuscrito Sonora”, com trechos de gravações de entrevistas e 20 canções de Hermínio com diversos parceiros, como Paulinho da Viola, Baden Powell, Moacyr Luz, Joyce, Vital Lima e Luiz Ribeiro.

Release

Figura marcante da cultura brasileira. Memória viva da história da música popular. Esses são alguns dos pensamentos que vêm à cabeça quando o assunto é Hermínio Bello de Carvalho. Alguns por dois motivos: um porque Hermínio é inclassificável (talvez por isso rejeite rótulos); outro porque mesmo que se ousasse arriscar, a tarefa seria árdua.
Hermínio é multifacetado nos quesitos “cultura” e “Brasil”, tendo atuado – e continuando na ativa –, em inúmeras atividades, sobretudo na música e na literatura brasileira, desde a década de 40.
Em Timoneiro, o jornalista Alexandre Pavan narra a trajetória profissional de Hermínio Bello de Carvalho, entremeada com boas histórias sobre os personagens, fatos e causos da música popular brasileira vividos em todos esses anos de agitação cultural do compositor.
Os 70 anos do artista, completos em 2005, foram motivo de criação de um projeto que viabilizasse a produção da obra de Hermínio em espetáculos, CD e livros. Os shows aconteceram no Centro Cultural Carioca, a gravadora Biscoito Fino lançou a caixa com CDs e a antologia poética foi publicada pela Martins Fontes.

Mais vivo do que nunca
O livro não segue o padrão cronológico tradicional de biografias. Pavan optou por traçar um panorama da atuação multifacetada e precoce de Hermínio – que, além de ter visitado com freqüência o auditório da Rádio Nacional na infância e adolescência e escrever poesias desde menino, começou no jornalismo aos 15 e em rádio aos 18 –, mesclando os acontecimentos culturais de épocas retratadas com depoimentos concedidos pelo protagonista.
O autor descreve que, nas conversas de botequim, ao ser citado o nome Hermínio surge a pergunta: “Mas esse cara está vivo?”. Pavan atribui a dúvida aos parceiros e artistas com os quais Hermínio é associado, como Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Villa-Lobos, Clementina de Jesus, Aracy de Almeida.
Em entrevista a um jornal, Hermínio respondeu sobre tal questão que essas pessoas têm toda razão de pensar assim, afinal ele também pensa. Disse, ferinamente: “A primeira coisa que faço ao acordar é ler a seção de obituário no jornal para saber se não morri…”.

Mário de Andrade, o guru
A devoção de Hermínio por Mário extrapolou os livros. Além de ter residido no prédio em frente ao apartamento que o autor de Macunaíma viveu no período em que estava no Rio de Janeiro, Hermínio jura ter visto quando criança a figura de Mário na Taberna da Glória, bar que freqüentou na adolescência e também quando adulto, e ponto de encontro de artistas de vanguarda na cidade.
As feições de Mário, assim como suas idéias, não saíram de sua cabeça. Publicou em 1999 Cartas cariocas para Mário de Andrade, reunião de crônicas sobre o escritor, e lançou o livro na mesma Taberna da Glória.
“Sou um brasileiro desbragado. Sou totalmente impregnado pelo Brasil. Falo e penso como brasileiro sem abdicar do jazz, da música erudita, do folclore internacional. O verdadeiro nacionalismo foi ensinado por Mário de Andrade: ouvir tudo, ter os ouvidos atentos a tudo o que há de bom no mundo”, explica Hermínio.

Zicartola
Amor em nome do samba, da Mangueira, da boa cozinha. O Zicartola, bar de um dos casais mais ilustres do mundo do samba, Dona Zica e Cartola, foi fruto de um coletivo de artistas que, ao atentarem para o talento de Zica na cozinha e de Cartola no samba, resolveram colocar a mão na massa e abrir o estabelecimento, que ficava no sobrado da rua da Carioca, 53.
Hermínio, que se dividia em inúmeras atividades, era responsável pela confecção do cardápio do Zicartola. Todas as noite, batia ponto no bar, que se transformou num dos redutos da boemia no Rio. Nomeou algumas criações gastronômicas de Zica, como “Feijão à Nelson Cavaquinho” e “Filé à Ismael Silva”.

Manuscrito sonoro
Timoneiro vem acompanhado de Manuscrito sonoro, CD com poemas e canções inéditas de Hermínio Bello de Carvalho. As letras e a ficha técnica podem ser consultadas na edição, que reúne ainda referências bibliográficas e discografia, com composições e produções musicais do artista.
O legado de Hermínio Bello de Carvalho é extenso. Além de sua vasta produção autoral, relançou artistas como Nora Ney, Zezé Gonzaga, Elizeth Cardoso, e divulgou pérolas como Clementina de Jesus.
Não é à toa que Hermínio afirma que “Não vim aqui para fazer gracinhas”.